top of page

Como perder dinheiro em renda fixa?

  • Foto do escritor: Gabriel Matos
    Gabriel Matos
  • 25 de mai. de 2023
  • 4 min de leitura

Nem todo mundo se atenta, mas um investimento em renda fixa é sempre uma operação de crédito. Como assim?


Todo investimento de renda fixa é um título de crédito e, portanto, há risco de não recebimento. Você faz um empréstimo para o Tesouro Nacional, para um banco, para uma empresa não financeira, ou até mesmo para uma pessoa física. Portanto a rentabilidade de cada alternativa de investimento deverá estar associada ao risco que aquele crédito representa.


A taxa SELIC é a taxa básica de juros da economia. Ela é a referência para as operações de crédito realizadas no Brasil. Ao custo de cada operação, haverá um incremento que justifique o risco daquele negócio.


Para exemplificar, imagine que você tem 1.000 reais ociosos e dois amigos diferentes te pedem um empréstimo. Um deles é o João, que tem restrições de crédito e normalmente tem dificuldades para pagar seus compromissos. O outro é o Pedro, sempre responsável com seus compromissos, tem a vida equilibrada e o nome cristalino.


Racionalmente, pela mesma taxa (preço do dinheiro), você vai emprestar os seus 1.000 reais para o Pedro. Caso você queira emprestar para o João, deverá aumentar a taxa para compensar o risco de ele não pagar. Pois bem, este é o risco de crédito e o seu preço.


O Tesouro Nacional emite os títulos públicos federais e é a maior referência de segurança, seguido pelos bancos. Um banco de primeira linha representa mais segurança do que um banco médio ou pequeno, portanto um título de um banco pequeno ou de uma financeira, deverá oferecer mais rentabilidade do que o de um banco grande.


Uma questão muito importante é que os valores em CDB/RDB, LC, LH, LCI, LCA, depósitos à vista (conta corrente) ou caderneta de poupança, desde que devidamente escriturados, estão cobertos pela garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).Esta associação civil sem fins lucrativos, entra em ação garantindo ao investidor, os créditos que ele tenha contra instituições que sejam liquidadas pelo Banco Central. O limite da garantia é de R$250.000,00por CPF ou CNPJ em cada instituição ou conglomerado financeiro. Recentemente, em 2017, passou a vigorar também um limite total de cobertura. Este limite é de R$1.000.000,00 num intervalo de 4 anos. Ou seja, se tenho seis títulos de 200 mil reais cada, de diferentes instituições, e todas quebram em intervalo inferior a 4 anos, minha garantia estará limitada a um milhão de reais.


Falamos do risco de crédito. Daria para escrever muito mais detalhes, mas preferi passar o que é fundamental.

Você pode estar pensando que tem investimento em renda fixa, nenhum credor deixou de pagar (o Tesouro Nacional, inclusive), e o valor diminuiu.


Sim! Além do risco de crédito, temos o risco de mercado. Este é o risco de oscilação do preço de um ativo no mercado. Também podemos chamá-lo de volatilidade.


O exemplo principal disso, dentro do mercado de renda fixa, são os títulos pré-fixados ou que têm taxa pré-fixada na composição da sua rentabilidade. Imagine que você foi ao portal do Tesouro Direto e adquiriu em 2023 um título que rende 10% ao ano com vencimento em 2035. Na sua cabeça, aquele retorno é certo no vencimento (E é mesmo). Basta capitalizar o valor investido pela taxa acordada no período vigente, e você encontrará o valor a ser resgatado. Mas o caminho não é linear.


Suponhamos que daqui a um ano, a taxa de mercado deste mesmo título, que oscila de acordo com inúmeras variáveis da economia, seja de 8% ao ano. Ótimo negócio! Seu extrato mostra um valor bastante acima do que você investiu, e pode parecer que o valor crescerá nesse ritmo pelos próximos 11 anos. Mas não é isso!


A taxa atual é de 8% e o seu título tem 10%ao ano garantidos, até o vencimento daqui a 11 anos. Se você vende-lo agora (o Tesouro recompra na hora que você quiser), haverá um ajuste positivo, um ágio de 22% (2% ao ano por 11 anos),para compensar a diferença até o vencimento. Quanto mais longo for o título, será mais sensível à esta variação. O extrato sempre mostra o valor de venda do seu título naquele momento, mesmo que você não queira vender.


O contrário também é verdadeiro.


Se os juros subirem para 12% ao ano, da mesma forma haverá o efeito na precificação diária (marcação a mercado), porém negativo. No mesmo raciocínio, alguém quer um título que paga 10% enquanto no mercado tem disponível remunerando 12%?Claro que não!


Portanto, o ajuste diminuiria em cerca de 22%, o preço do seu título. Se você vendesse o título, estaria realizando um prejuízo. Não vendendo, seu saldo continuará flutuando até a data do vencimento, de modo que chegará ao valor previsto no momento da aplicação.


Importante: Se você não vendeu, não perdeu dinheiro. Aquele é o preço atual para venda de algo que você não vai vender.

Nesta lógica, pense como seria desconfortável, receber todos os dias um e-mail com a cotação atual do imóvel da sua família, e o valor fosse inferior ao que você pagou... A lógica do percurso é parecida, mas no título de renda fixa pré-fixado é mais previsível. Já sabemos o valor no vencimento.


Há ativos de remuneração composta em “taxa pré-fixada + algum índice”, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é o mais comum. O objetivo destes ativos é assegurar o seu poder de compra. O movimento da taxa pré-fixada seguirá a mesma regra, e a parte do IPCA dará a contribuição positiva (exceto em períodos de inflação negativa).


O brasileiro ainda é pouco acostumado com essa volatilidade, que não é perda de capital e sim oscilação no preço. Mas em tempos de juros mais baixos, isso será necessário para quem busca retorno real nos seus investimentos. O ciclo de alta dos juros, sentido pela economia global após a pandemia Covid-19, trouxe bastante estresse, mas também muito aprendizado e necessidade de adaptação a essa nova realidade.



 
 
 

Comentários


bottom of page